Ele nos chama pelo nome

"Maria Madalena tinha ficado perto da entrada do túmulo, chorando. Enquanto chorava, ela se abaixou, olhou para dentro e viu dois anjos vestidos de branco, sentados onde tinha sido posto o corpo de Jesus. Um estava na cabeceira, e o outro, nos pés. Os anjos perguntaram:

— Mulher, por que você está chorando?

Ela respondeu:

— Levaram embora o meu Senhor, e eu não sei onde o puseram!"

(João 20.11-13)

O que me chama a atenção nessa passagem é o sofrimento de Maria. Ela viu os anjos, viu o túmulo vazio e seu coração ainda sofria. Consigo imaginar que devem ter sido dias intensos para ela: em apenas um dia todo o seu mundo foi chacoalhado e as suas certezas abaladas. Depois de tanto viver com Jesus, experimentar do seu amor, ser liberta por Ele e ver milagres sendo operados em locais abandonados pelo homem, ela volta a estaca zero. Ela retorna ao ponto de partida, quando ela perdida estava e cheia de dúvidas se encontrava.

Quantas vezes não nos encontramos nesse lugar, onde parecemos voltar, de forma a regredir no tempo e no espaço e reencontrar antigos obstáculos, tão orgulhosamente vencidos? Assim, como Maria ficamos chorando diante da ferida aberta que não cicatrizou, ou do próprio túmulo, que representava a dor incompreendida e escancarada. A pior dor é aquela que não compreendemos e eu imagino que ela estivesse assim, ainda sem acreditar na morte de Jesus e sem entender o motivo de isso ter acontecido. Como Deus poderia ter deixado Ele morrer assim, de uma morte tão injusta e castigada? Ela o amava e doía ver o seu fim trágico, sua separação súbita de seus amigos.

Em seguida, nos deparamos com uma passagem fantástica que pode nos ensinar muitas verdades sobre Jesus e sobre a dor:

Depois de dizer isso, ela virou para trás e viu Jesus ali de pé, mas não o reconheceu. Então Jesus perguntou:

— Mulher, por que você está chorando? Quem é que você está procurando?

Ela pensou que ele era o jardineiro e por isso respondeu:

— Se o senhor o tirou daqui, diga onde o colocou, e eu irei buscá-lo.

— Maria! — disse Jesus.

Ela virou e respondeu em hebraico:

— “Rabôni!” (Esta palavra quer dizer “Mestre”.)

(João 20. 14-17)

Perceba como ela não reconhece Jesus, ainda que Ele seja exatamente a pessoa que ela buscava. Enquanto Maria chorava, buscando encontrar seu Mestre pelas suas próprias forças, Jesus já estava lá falando com ela. A dor consegue nos cegar e nos impedir de ver o grande milagre que se apresenta diante de nós. Enquanto estamos presos em nós mesmos, nas nossas preocupações e pensamentos, Deus já fez. Maria estava presa na sua dor e no seu luto, porém Jesus já tinha ressuscitado!

Essa concepção sobre as nossas características humanas me espanta pela sua veracidade. Quantas vezes eu, tão pequena e limitada, me peguei aprisionada pela ansiedade, pensando em cuidar de todos os detalhes e problemas do futuro, e não consegui ver o bem que o Senhor já tinha me feito? A minha dor e inquietação me impediu de reconhecer o Senhor ao meu lado, segurando a minha mão, me guiando e consolando. Dessa maneira, enquanto eu, ansiosamente, pensava, fazia e reclamava, o Senhor já tinha feito, já tinha preparado todos os detalhes e já tinha trabalhado.

Às vezes passamos por momentos em que oramos e perguntamos para Deus onde Ele está enquanto tudo desmorona. Nessas situações, é tão difícil sentir Ele junto a nós. Olhamos para o céu esperando um anjo mensageiro. Vamos para o culto esperando que o pastor seja usado com um "Eis que te digo" para finalmente escutarmos a voz de Deus. Olhamos para tantos lugares e tantas coisas que podem ter a resposta que o nosso coração se fecha para as verdades que Ele tenta nos revelar. Procuramos e procuramos, exatamente como Maria, e acabamos por não reconhecer Jesus quando Ele se apresenta a nós.

A dor pode trazer ausência de luz, isso acontece. Como vimos, aconteceu com Maria e acontece conosco continuamente. Somos humanos, não máquinas perfeitas: nós sentimos, nos desesperamos e erramos. Mas não se preocupe, sabe por que? Eu tenho aprendido a confiar a minha vida totalmente a Jesus, sabendo que, caso eu não esteja escutando a voz Dele, Ele não vai desistir e baterá na porta até eu abrir. Você não consegue garantir todos os detalhes do seu futuro nem se assegurar somente na sua capacidade de não errar, porém você pode se segurar em um: Jesus.

Portanto, não tenha medo e veja o que Ele fez com Maria: Ele a chamou pelo nome, com todo carinho e intimidade. Quando você estiver angustiada e tomada pela dor, Ele te chamará pelo seu nome, pela sua identidade, a qual Ele sabe bem qual é e ama profundamente. E quando Ele nos chama, Ele nos reconhece como ninguém no mundo pode, porque é Ele quem declara as palavras de vida sobre nós. Naquela cruz, Ele conquistou o direito de te reconhecer com uma essência renovada, a de filha amada, sacerdócio real, nação santa.

Lembre-se, quando Ele nos chama pelo nome, nosso mundo sacode e as coisas voltam aos seus devidos lugares. Não tenha medo: por onde Ele passa, as flores nascem, os rios enchem e as árvores crescem. Desertos inteiros se tornam terra fértil e frutífera, vales de ossos secos recebem nova vida, cegos vêm, coxos andam e cadeias são quebradas.

Essa é a nossa certeza: Jesus conhece as suas ovelhinhas. Ele ama o seu rebanho e sabe cuidar dele com maestria. Cada ovelha é conhecida e chamada pelo nome, e quando uma se perde, Jesus deixa tudo para encontrá-la e trazê-la de volta para casa. De modo algum o Senhor descarta as que vão até Ele com coração sincero e quebrantado.

Assim, respire e se acalme porque Ele te chama pelo nome.

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